sexta-feira, 19 de maio de 2017

Receita para ficar bilionário no Brasil sujo

Por Jorge Oliveira, jornalista - Diário do Poder
Quer ficar bilionário? Quer mesmo? Aqui vai a receita: ajude a eleger um presidente, empregue na sua empresa parentes e amigos desse presidente ou ex-presidente, alie-se a um grupo de políticos influentes em Brasília, peça empréstimos ao BNDES, na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil e em outros bancos estatais, alicie os presidentes dos fundos de pensão, financie campanhas de políticos e junte-se a lobistas poderosos e influentes. Pronto, com esses ingredientes alguns brasileiros se transformaram em bilionários da noite para o dia. Um, Eike Batista, solto do presídio de Bangu, é vigiado por tornozeleira eletrônica. Outros, os irmãos Batista, donos da rede frigorifico JBS, viraram delatores e personagens de outro escândalo que abala a república. Detonaram o Temer, Aécio, Cunha e toda elite política do país.

A penalidade: multa de 220 milhões de reais por ter assumidamente declarado que corrompeu políticos, comprou leis no Congresso Nacional e financiou campanhas. Ora, uma merreca para quem embolsou 8,1 bilhões de reais do BNDES na gestão petista de Luciano Coutinho, presidente do Banco, e durante os governos Lula/Dilma/Temer. Agora se sabe que os irmãos Batista eram mais influentes do que os Odebrecht no governo do PT. Eram, digamos assim, os comem quietos da república. Tanto é que mesmo depois do bombardeio da Lava Jato, eles continuaram distribuindo dinheiro à moda mineira. Doaram, por baixo dos panos, 2 milhões de reais para ajudar o Aécio a pagar seus advogados e alimentavam o Eduardo Cunha com uma mesada milionária em troca do seu silêncio sobre as falcatruas de Temer e aliados do PMDB.

Você entendeu a fórmula mágica para ser bilionário no Brasil sujo? Não? Então vamos lá. Com a ajuda de dirigentes corruptos que administram bancos estatais, quase todos escolhidos por governantes mercenários, eles captam recursos para desenvolver suas empresas com risco zero. Quando quebram, o paizão, o estado, assume o prejuízo. E o empresário, que não é bobo, na maior cara de pau, logo grita: “Quebramos porque o país, administrado por um governo incompetente, mergulhou o país numa recessão econômica”. Pronto, está justificado o calote. Com o dinheiro depositado no exterior, a família se refugia nos balneários europeus. Ou passam a viver uma vida de tédio em Miami e Nova Iorque. O desemprego, causado pela recessão, dane-se, não é problema deles.

É aí que o bicho pega. Desempregados, os trabalhadores logo são convocados pelas centrais sindicais para irem às ruas lutar por seus direitos. É melhor do que ficar em casa com fome. Na concentração, eles ganham um troquinho, um sanduiche de mortadela, uma camisa vermelha e ensaiam as palavras de ordem como se tivessem em um set de filmagem. Coitado! Já foi manipulado pelo empresário e agora são colocados na linha de frente pelos sindicatos pelegos para virar saco de pancadas, levar porrada da polícia. Como disse Marcelo Odebrecht, na sua delação premiada, a empreiteira pagava os dirigentes pelegos para evitar greves nos seus canteiros de obras quando se via ameaçada de paralisação. Portanto, para os trabalhadores sobram os chutes e as cacetadas da polícia. Não há divisão de receita.

Administrando as centrais e os sindicatos como um feudo, os pelegos passam a ter um poder descumunal nesses movimentos sociais e reivindicatórios porque contam com a melhor matéria prima: o trabalhador, acionado a qualquer momento, para manter a chama acesa nas ruas. E, mais uma vez, vira massa de manobra. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É mordido na jugular pelo empresário refratário, corrupto e caloteiro que toma o seu dinheiro emprestado e não paga. E é escravizado e manipulado por dirigentes sindicais que insistem em arrancar dele compulsoriamente uma contribuição sindical que ele nem sabe para onde vai.

Esse é apenas um ciclo comum da exploração do trabalhador. É assim, vai continuar assim e dificilmente vai mudar. Quanto mais puxar o fio do novelo, mais suja a linha fica. Quem não se lembra, por exemplo, do Banco do Sílvio Santos? Ele foi a bancarrota, mas a viúva logo apresentou uma solução para comprá-lo. A Caixa Econômica absorveu o prejuízo, o empresário se safou, e continuou gozando da cara da gente todos os domingos, gritando no auditório: “Quem quer dinheiro, quem quer dinheiro”.

E o trabalhador, desempregado, reúne à família em torno da TV para se entreter com o apresentador bufão sem saber que ele deixou um rombo no sistema financeiro de bilhões de reais por gestão fraudulenta do Banco Panamericano, prejuízo assumido, em parte, pela Caixa Econômica, um banco social, que recolhe o dinheiro dos empregados nem sempre usado em causas nobres. Viu, trabalhador, como pra você não tem saída!  

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