sábado, 3 de novembro de 2012

Eleições 2012: O fator Z

Por Francisco Sidou, jornalista (*).
Após o "rescaldo" das urnas, ainda fumegantes, ouso emitir modesta opinião sobre a eleição do novo prefeito de Belém, com a devida venia de nossos doutos analistas/cientistas políticos. Em princípio, não adianta chorar sobre os "votos derramados". O eleitor é o juiz supremo e já decidiu. Não cabe recurso. "Habemus" prefeito.

É certo que os debates, apesar de sonolentos, pelo excesso de regras que "engessam" os candidatos , também ajudaram na migração de "votos mutantes" para Zenaldo, que se mostrou bem mais articulado, com boa postura no vídeo, tanto de imagem quanto na tonalidade de voz. Foi ainda favorecido por ter-se exposto na liderança da vitoriosa campanha do "Não à Divisão", enquanto muitos políticos profissionais preferiram o "muro" da esperta omissão, agora transformado em "muro das lamentações"...

A par disso, conseguiu "passar" nos debates credibilidade e acabou conquistando a confiança dos eleitores indecisos e dos "órfãos" de candidatos derrotados no primeiro turno. Por isso, não me parece legítima a presunção de alguns candidatos derrotados ou mesmo partidos nanicos apoiadores no 2º turno, julgando-se "donos" dos votos conquistados no primeiro turno, como forma de "cacifar" cargos ou DAS na futura gestão municipal. O voto foi livre e não teve "peias". A política nada franciscana "do é dando que se recebe" também foi ferida de morte.

Na eleição do segundo turno, em todo o país, ficou claro que o eleitor não votou por ideologia ou programas partidários, mas em candidatos que se apresentaram como "novidade" no cenário político contaminado pela mesmice de velhas lições e práticas fisiológicas de um modelo político decadente.

O sucesso do PSB elegendo cinco jovens prefeitos de capitais não indica apenas o fortalecimento desse partido, mas aponta para o desejo de renovação dos quadros partidários. É um duro recado do eleitor para os "caciques oligarcas" que dominam os partidos como meros cartórios ou "casas de tolerância"... Renovar é preciso. Sobreviver politicamente também. Caso os parlamentares não votem a Reforma Política, que se faz premente , os "donos" de partidos vão acabar se tornando síndicos de uma massa falida.

Em Belém, o apoio do PT a Edmilson parece ter mais subtraído do que somado votos. As bandeiras vermelhas não conseguiram o mesmo efeito do "vermelhou" de outros carnavais, aliás, eleições. O PT, que tem e fez história, com o legado de lutas e conquistas memoráveis como as vitórias de Lula/operário e Dilma/mulher, para os paraenses perdeu o "charme" do novo diante do "jeito petista de governar" o Estado, que o eleitor descobriu não ter muita diferença de métodos adotados pelos "profissionais" da política. O belenense desconfiou que se Edmilson ganhasse, o PT iria "voltar com tudo" para cobrar "salgada fatura" administrativa pelo seu apoio. Também aqui pesou o "efeito Badinni", de triste memória. Em São Paulo, porém, o PT venceu bem com Haddad, um "poste" a que Lula deu luz. Diante da "fadiga dos materiais" da candidatura Serra, o eleitor paulistano preferiu apostar no novo, que deixou de ser Russomano - uma espécie de "reencarnação" do fenômeno Collor , esvaziado qual "bolinha collorida de sabão" - mas Haddad, cuja postura nos debates também foi fator decisivo para se tornar conhecido e convencer o eleitor paulistano de que poderia ser "o novo" na gestão pública da maior cidade do Brasil e da América Latina.
Logo, o PT também pode se "oxigenar" nesse rescaldo das urnas, caso aceite reformular métodos e paradigmas do seu "jeito petista de governar" e abandone essa mania de atribuir seus tropeços eleitorais ou o julgamento do mensalão a sombrias conspirações da "elite" ou da "imprensa burguesa"... Não cola mais.

Passada a euforia da vitória, os eleitos têm a grande responsabilidade de corresponder aos anseios de milhões de eleitores que desejam agora mudanças e transparência na gestão pública.

O novo prefeito de Belém vai presidir os festejos dos 400 anos de nossa bela/ morena/ faceira cidade, apesar dos maus tratos. São tantas as carências dos belenenses - como a saúde na UTI, o trânsito caótico/neurótico, alagamento de ruas e canais, lixo nas ruas e esgotos a céu aberto, bueiros entupidos, ratos que proliferam na base de 8 por habitante, calçadas irregulares, transporte coletivo precário e sujo, falta de ordenamento dos alternativos, ausência de ciclovias e motovias, da insana "saga" de construções de concreto/aço destruindo áreas verdes da capital menos arborizada do país, embora localizada no coração da selva amazônica - que nenhum cidadão belenense, em sã consciência, poderá negar apoio a Zenaldo nessa árdua tarefa de reconstruir a cidade, independente de partidos, ideologias ou religiões. O novo prefeito, antes da posse, smj, precisa voltar a fazer caminhadas na periferia para agradecer os votos de confiança de milhares de belenenses que vivem em condições precárias e ainda assim acreditaram nas suas propostas de mudança. Deve aproveitar para ouvir de novo as carências básicas da população, agora sem a correria da campanha e, de preferência, sem a "entourage" de assessores e seguranças. Estes apenas dificultam o acesso ao povo que efetivamente elegeu o novo prefeito. Precisa também dar prioridade na conclusão de obras "estruturantes" paralisadas como o BRT e o portal da Amazônia, mas também avançar no saneamento básico, na melhoria dos transporte coletivos ( os donos de ônibus não querem mudar nada ), na saúde, na segurança, etc, etc. São muitas, além dos três SSS, as letras do alfabeto das necessidades da população de Belém, de A a Z. Mas todos sabemos que não elegemos um mágico ou ilusionista. As parcerias são indispensáveis. Todavia, a mais importante para o seu êxito deve ser feita com o povo. Nesse sentido, tenho modesta sugestão para o lema da nova gestão: ao invés do "eu sei como fazer" , reprovado nas urnas,que tal o "Vamos fazer juntos" !!!
(*) Francisco Sidou é jornalista
chicosidou@yahoo.com.br